sábado, 30 de julho de 2011

Gregório, Gregório

a Gregório Bezerra, camarada de sonhos, de vida

impenetrável nordestino,

como casca de jabuti; duro

por fora, tenro

e terno

no lado interno.

impenetrável aos fantoches da repressão

e ao patrão da não vida,

da não justiça,

da não verdade.

nunca gritou de dor por seu corpo;

nunca reclamou de sua sede no sertão;

tampouco lutou contra sua fome,

por seu espaço, seu traço, seu maço

de notas de papel.

não viveu preso por

exigir sua própria liberdade, nunca,

em décadas de escuridão e agonia

nos calabouços de tirania.

não foi o egoísmo

que o forjou livre, foi seu povo

ainda mais martirizado,

tenso e leve.

seu povo criança

faminto e esquecido no sertão.

viver tantas vidas o libertou.

tornou-se ar e água,

pão e sonhos,

ontem, agora e amanhã;

viver tantas vidas o libertou

da culpa omissa

e da desculpa promíscua

de viver a própria vida.

recuperou a vida quitada

nos anos de solitárias imundas

dedicando-se à vida sofrida,

ao sertanejo,

ao gaúcho dos pampas.

tomou partido por seu povo

e tal partido por toda vida.

tornou-se ar e água,

pão e sonhos.

Gregório está ao meu lado e ao teu.

Otávio Dutra – março 2009

Florianópolis – Brasil.

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