No ano de 1998, quando os furacões George e Mitch provocaram grandes destruições em centro-américa, suplantando a capacidade de resposta civil e governamental aos desastres naturais, o governo cubano decidiu fundar uma Escola Internacional para a formação de médicos, 100% pública, 100% gratuita, aos jovens dos países periféricos, com o objetivo de atender aos excluídos dos sistemas de saúde precarizados e privatizados. Um ano depois se cria a Escola Latino-americana de Medicina (ELAM). A partir da próxima graduação seremos mais de 10.000 médicos, oriundos de 116 países de Ásia, África, Oceania e América, formados por esse projeto. Até o momento os médicos formados pela ELAM estão participando de importantes projetos sociais em inúmeros países de América. No Haiti existe uma cooperação tripartite entre os governos de Cuba-Brasil-Haití, onde mais de 680 médicos formados em Cuba, trabalham atendendo gratuitamente ao povo haitiano, atingido pelo terremoto mais forte conhecido pela história contemporânea do continente e que agora sofre uma importante epidemia de cólera. No Equador, jovens formados em Cuba participam de uma Missão governamental chamada “Manuela Espejo”, estão fazendo o levantamento em todos os rincões desse país das pessoas com deficiência física e mental, levando assistência médica integral a todo o interior equatoriano. Na Venezuela, jovens formados pela ELAM participam de um projeto Governamental chamado “Batalhão 51”, em homenagem aos primeiros 51 venezuelanos formados pela ELAM, que atende a populações ao longo da Amazônia venezuelana e outras regiões afastadas desse país. Poderíamos citar exemplos do trabalho dos médicos latinos formados em Cuba, em Nicarágua, México, Honduras, Guatemala, Peru, Bolívia e em muitos outros países de América. E no Brasil, país mais rico da América Latina, que possui mais de 568 municípios sem nenhum médico e mais de 1500 sem médico fixo, onde crianças morrem por enfermidades infecciosas, desidratação, e outras enfermidades previníveis, facilmente tratáveis se atendidas prontamente, no qual a mortalidade infantil está em torno de 20 por mil nascidos vivos, sendo que no nordeste, por exemplo, chega a 34,4 por mil nascidos vivos, muito diferente de Cuba com 4,5 por mil. Além disso, são milhares os pacientes da terceira idade, portadores de doenças crônicas não transmissíveis, como a Hipertensão Arterial e a Diabetes, sem atenção médica devida. A inserção dos estudantes formados em Cuba e em outros países no Brasil tem sido dificultada por barreiras corporativas de setores reacionários e mentirosos, que até hoje não assumiram a responsabilidade de levar o direito à saúde a todo o povo brasileiro. A medicina no Brasil hoje é controlada pelo Complexo Médico- Industrial: “empresários da saúde”, corporações farmacêuticas e de tecnologia médica que influenciam a formação médica, de forma que nossos médicos são educados a interpretar “exames complementares”, sem tocar nem olhar o paciente, sem entrevista-lo, nem menos dedicar-lhe atenção psico-social. A medicina brasileira esta mercantilizada e desumanizada. Nós, estudantes da Escola Latino-Americana de Medicina, vimos a público colocar-nos a disposição da sociedade e dos poderes públicos de todos os níveis da federação para a realização de um Plano Integral de Inserção ao Sistema Único de Saúde (SUS), que permita a inserção de médicos formados no Brasil e no exterior, dispostos a levar o acesso à saúde e qualidade de vida às famílias hoje excluídas da assistência médica. O Sistema Único de Saúde é a bandeira mais ousada que o movimento popular brasileiro construiu com muita luta e articulação no século passado. Desde a sua aprovação na constituição cidadã e da incompleta regulamentação posterior, tem sofrido ataques constantes que ameaçam destruir e descaracterizar o maior sistema de cobertura médica do mundo. Por conta do reconhecimento das patentes internacionais sobre os medicamentos, a demora para aprovação da Emenda Constitucional 29, a derrubada da CPMF, a legalização das Fundações e a entrega do serviço de saúde às Operadoras de Serviço, o SUS necessita cada vez más ser defendido e tornarse uma realidade. O Brasil, que possuí um desenho formal do sistema de saúde mais completo que outros países da região, gasta menos per capita que países vizinhos como Argentina e Chile. Nós, estudantes de medicina da Escola Latino-americana de Medicina, reunidos em nosso II Encontro Nacional em Cuba, vimos a público manifestar nosso compromisso de tornar o Sistema Único de Saúde uma realidade para o povo brasileiro. Convidamos a sociedade para juntar-se a nós na defesa de um SUS verdadeiramente para todos.
27 de março de 2011. Caimito, Província Artemisa, Cuba.
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