sábado, 13 de março de 2010

Gregório, Gregório (a Gregório Bezerra, camarada de sonhos, de vida)


impenetrável nordestino,

como casca de jabuti; duro

por fora, tenro

e terno

no lado interno.


impenetrável aos fantoches da repressão

e ao patrão da não vida,

da não justiça,

da não verdade.


nunca gritou de dor por seu corpo;

nunca reclamou de sua sede no sertão;

tampouco lutou contra sua fome,

por seu espaço, seu traço, seu maço

de notas de papel.


não viveu preso por

exigir sua própria liberdade, nunca,

em décadas de escuridão e agonia

nos calabouços de tirania.


não foi o egoísmo

que o forjou livre, foi seu povo

ainda mais martirizado,

tenso e leve.

seu povo criança

faminto e esquecido no sertão.


viver tantas vidas o libertou.

tornou-se ar e água,

pão e sonhos,

ontem, agora e amanhã;


viver tantas vidas o libertou

da culpa omissa

e da desculpa promíscua

de viver a própria vida.


recuperou a vida quitada

nos anos de solitárias imundas

dedicando-se à vida sofrida,

ao sertanejo,

ao gaúcho dos pampas.


tomou partido por seu povo

e tal partido por toda vida.

tornou-se ar e água,

pão e sonhos.

Gregório está ao meu lado

e ao teu.


Otávio Dutra


Homenagem aos 110 anos do camarada Gregório Bezerra (13 março de 1900 - 13 de outubro de 1983):

Gregório vive!

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